Nos últimos meses o brasileiro tem lido com frequência na imprensa sobre as encrencas dos blocos econômicos. Na Europa temos a confusão pela saída do Reino Unido da União Europeia. Aqui na América do Sul estamos vivenciando a crise da Venezuela e a tentativa de assumir a presidência do Mercosul. Além desses, tem a Alca, o NAFTA, a União Africana e muitos outros. Os blocos são muitos, mas o que são eles? Entenda aqui no Econoleigo o que são os blocos econômicos e se o Mercosul vale a pena.
O que são os blocos econômicos e quando foram criados
Na história do mundo, a criação de blocos econômicos é algo relativamente recente, que começou com o fim da 2ª Guerra Mundial. Esses blocos, na verdade, são acordos intergovernamentais que podem ter vários objetivos, desde facilitar a movimentação de pessoas entre as fronteiras, a redução de tarifas de importação, livre comércio entre os países do bloco e em alguns casos união econômica e monetária.
Embora não seja consenso entre os estudiosos, eu defendo que a formação desses blocos foi um dos iniciadores do movimento de globalização moderno, com o aumento das necessidades semelhantes entre os países do bloco. Expandir negócios e mercados internacionalmente se tornou viável a partir do momento em que as afinidades políticas e econômicas facilitaram a movimentação de pessoas e compartilhamento cultural.
O primeiro bloco econômico que se tem notícia foi criado na Europa, inicialmente chamado BENELUX em razão dos países participantes: Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo. O objetivo inicial do BENELUX era estimular o comércio e derrubar tarifas alfandegárias entre estes países, mas a necessidade posterior de fomentar a indústria do aço e do carvão fez com que outros países europeus se juntassem ao acordo e formasse o embrião do que hoje é a União Europeia.
A história do Mercosul e sua criação
Nas Américas, um dos mais importantes blocos econômicos é o Mercosul, do qual o Brasil faz parte e é um dos líderes. Durante séculos os sul-americanos batalharam entre si por território, ao mesmo tempo em que mantinham relações de comércio – muitas vezes ilegal. A assinatura da Declaração de Foz do Iguaçu, em 1985, foi a pedra fundamental do Mercosul e foi resultado de toda a história vivida pelos fundadores, inclusive com o fim de períodos de ditadura e abertura comercial e econômica para o restante do mundo.
Tudo que envolve política depende de muita conversa, café e apertos de mão. Se as bases foram montadas em 1985, somente em 1991 é que foi oficialmente criado o Mercosul. De lá pra cá, o comércio entre os países do bloco já soma US$ 58,2 bilhões. Além disso, os países membros tiveram avanços significativos em telecomunicações, infraestrutura, ciência e tecnologia, agricultura, educação e no que tange ao combate ao tráfico de drogas, armas e pessoas. Para além do comércio e da economia dos países, os cidadãos dos Estados Parte tem facilidades para passeios, moradia, previdência social e protocolos de integração educacional, o que facilita o reposicionamento profissional entre os países.
O Mercosul vale a pena para o Brasil?
Existem muitos críticos da permanência do Brasil no Mercosul e ela vem tanto da indústria quanto dos fornecedores de commodities, especialmente as agrícolas.
Um dos grandes problemas é que os acordos comerciais dos países do Mercosul são preferencialmente com o bloco e não são todos os países que conseguem atender às demandas e exigências do mercado consumidor. Os produtores rurais brasileiros estão ficando em desvantagem, apesar de estar sendo feito um esforço em compartilhar tecnologia e definir medidas de sanidade agropecuária para o bloco. Pelo lado da indústria, sem parceiros comerciais de peso, não existe mercado que possa comprar todos os produtos manufaturados brasileiros. Especialmente no atual cenário de crise interna e em um momento em que os produtos brasileiros estão a preços muito competitivos no mercado internacional, é um problema grave.
É esse um dos motivos pelos quais o Brasil, com um novo governo sem ideologia, tenta a todo custo expulsar a Venezuela do Mercosul. Nenhum país europeu quer fazer negócios conosco se, amarrado nesta transação, vier de presente um acordo com um país onde a ditadura ainda é vigente, onde pessoas são presas por criticar o governo e com total ausência de 97% dos remédios nas farmácias. Isso sem falar na inflação de mais de 200% ao ano.
Especialistas em comércio exterior, no entanto, são unanimes em afirmar que o Brasil deveria investir em acordos econômicos bilaterais e não baseados em geopolítica. Prova de que este não é um bom negócio é que apesar de ter o maior PIB do bloco e visibilidade e reconhecimento mundiais, sozinho não foi capaz de conter a crise político-econômica na região e ao contrário, foi contaminado por ela.
Voltando ao início deste artigo, os países se reúnem em busca de vantagens mútuas e para se protegerem de agentes externos que os impedem de crescer e atingir seu potencial. Chegou o momento de o Brasil avaliar com seriedade a quem é benéfico manter a cadeira no Mercosul. A saída do Reino Unido da União Europeia mostra que há precedente para saída de um bloco econômico, mesmo que isso seja uma medida extrema (e equivocada naquele cenário).
Resumindo: Nos moldes em que está, o Mercosul é como um acordo entre irmãos, onde um só pode ir na casa dos amiguinhos se levar os irmãos menores, cheios de espinha e sem educação. Se por um lado andar com os irmãos aumenta a reputação com algumas garotas, por outro acaba pegando mal entre as meninas populares da escola. Nos moldes em que está, o Mercosul aparentemente não serve mais para o Brasil, mas com algumas modificações, o Mercosul vale a pena, principalmente pelas facilidades de trânsito entre pessoas e o comércio entre as partes. E é assim que você deve se sentir ao saber que, ao jogar no oceano o peso morto que é a Venezuela e as outras semi-democracias do continente, e deixar de carregar todos no ombro, a economia brasileira pode ter acesso a União Europeia:

O Econoleigo é um site sem “economês”, para aqueles que não conhecem essa língua. É por mim, Rodrigo Teixeira, alguém até então pouco interessado em números, mas agora fascinado em transformar economia em algo que até eu mesmo consiga compreender.