A prisão de André Esteves, presidente do Banco BTG, pela polícia federal ontem chocou a todo o mercado financeiro. O banqueiro é acusado de obstrução de justiça nas investigações pertencentes à Operação Lava-Jato, que tenta passar a limpo o escândalo de corrupção envolvendo a Petrobras. Com crescimento meteórico durante o governo Lula e Dilma, o BTG tornou-se a menina dos olhos de todos quando o assunto era investimento.
Mas qual a relação de André Esteves com o assunto deste texto, a lavagem de dinheiro? Além da obstrução de justiça, uma série de depoimentos de petistas presos e outros hospedes da carceragem da Polícia Federal em Curitiba apontam o dono do BTG Pactual como o grande financiador de boa parte das ações ilegais orquestradas pela quadrilha.
Voltando ao tema. A operação se chama Lava-Jato pois tudo começou com uma investigação sobre lavagem de dinheiro, que sem surpresa alguma chegou à origem do dinheiro lavado: A Petrobras. A partir daí, a história é conhecida de todos. Sabendo que a grana era ilegal e também conhecendo sua origem, só faltava à Polícia Federal e ao Ministério Publico Federal descobrir quem eram os donos da bufunfa, e nesta dançaram José Dirceu, Nestor Cerveró, José Gabrieli e mais boa parte da alta sociedade petista.
Mas vamos ao tema.
O que é lavar dinheiro?
A lavagem de dinheiro é a arte de legalizar uma grana ganha de forma irregular. Isso também é conhecido popularmente como “esquentar” alguma coisa. Como o dinheiro frio não pode ser declarado às autoridades, ele precisa ser lavado para evitar o tropeço mais comum aos bandidos: o Imposto de Renda.
O método mais comum aos trambiqueiros e corruptos é recorrer a doleiros ou lavanderias financeiras, que fazer a regularização do dinheiro mediante um pequeno câmbio pela operação. Como nós do Econoleigo nunca usamos nossa máquina de lavar para isso, não sabemos a taxa exata para esse tipo de coisa, mas estimasse que um real legalizado custe cerca de R$ 1,50 pixulecos.
Como se faz para lavar dinheiro?
Vamos listar abaixo alguns métodos comuns adotados para esquentar grana no Brasil.
- Empresas fantasmas ou de fachada
Sabe aquele restaurante do seu bairro que vive vazio há 5 anos, mas que nunca fecha? Esse tipo de negócio é utilizado por bandidos (corruptos, traficantes, contrabandistas, e etc) para legalizar recursos. Funciona assim: o restaurante serve 50 refeições por dia, 30 pagas no cartão e 20 em dinheiro. No final do dia, o restaurante fecha como caixa como se tivesse vendido 100 refeições, 30 no cartão e 70 em dinheiro. No final do mês, o proprietário paga o imposto dessas 50 refeições “fantasmas” e pronto, o dinheiro vivo que “entrou” na caixa registradora foi legalizado. Isso pode ser feito com qualquer negócio que receba dinheiro vivo e não tenha entrada registrada de mercadorias. Lan House? Lanchonete? Cinema? Padaria? Tudo serve. - Loteria
Aqui a operação se divide em duas.
a) Bilhete Premiado: Através de contatos com donos de loterias, em bancos ou até mesmo em jornais, os criminosos descobrem o nome de ganhadores da loteria. Eles então oferecem para essa pessoa uma bolada em dinheiro vivo superior àquela ganha no jogo. Se o João ganha por exemplo R$ 300 mil, os criminosos oferecem a ele R$ 400 mil reais em troca do bilhete premiado. Se aceitar a proposta, o João vai até a lotérica, saca seu prêmio de R$ 300 mil e o transfere eletronicamente para a conta do criminoso, que recebeu um dinheiro legalizado.b) Bilhete comprado: Essa modalidade é mais arriscada e tem um custo de lavagem superior. Os criminosos compram com o dinheiro frio uma série de bilhetes, cada qual com um número diferente. Como a compra é feita picada e em espécie, é impossível rastrear quais cédulas exatamente foram utilizadas para adquirir o bilhete, e sendo assim não dá para saber a origem do mesmo. Os criminosos esperam então o sorteio do prêmio, e quando o ganham, assim como no exemplo acima o dinheiro é totalmente legalizado. Vale ressaltar que o risco desta operação é altíssimo, e o criminoso precisa gastar uma boa quantia de dinheiro em frio em troca da uma quantidade menor de grana legalizada. - Transferências, transferências, transferências
Como boa parte dos governos ainda não interligou seus sistemas de regulação financeira, os criminosos se aproveitam dessa grande sombra nos olhos da lei para esquentar seu dinheiro. A coisa é simples, mas engenhosa. Através de contas de laranjas em dezenas de países e bancos diferentes, o criminoso vai transferindo seu dinheiro para frente, numa espécie de corrente, até que ele receba em suas contas a mesma soma em quantias menores mas de um grande número de pessoas. Por exemplo:João deposita um dinheiro em espécie na conta de Mário, que transfere para Francisco e Paulo, que transferem para cinco pessoas no Paraguai, que transferem para oito pessoas na Africa do Sul e na Russia, que transferem para 20 pessoas ao redor do mundo, que então devolvem uma parte do dinheiro de volta para a conta do João.Descontados os custos bancários e as comissões dos laranjas, o processo é simples e indolor, embora deixe rastros. Essa modalidade de lavanderia aposta na complexidade do rastreamento de milhares de contas ao redor do globo para operar.
Mas como seria o envolvimento do BTG Pactual em um esquema de lavagem de dinheiro? A investigação ainda está em curso, e o Econoleigo se sujeitaria a processos caso fizesse algum tipo de acusação sem provas, até porque em um Estado Democrático todos são inocentes até que se provem o contrário. Não custa imaginar, por outro lado, as possibilidades que existem para um investidor experiente esquentar dinheiro só de olhar as três modalidades de lavanderia listadas acima.
Resumindo: Parece que finalmente a justiça chegou ao Brasil, e se até Senador da República e banqueiro estão indo para a cadeia por corrupção, parece que Deus por fim está olhando por nós, e é assim que você deve se sentir ao ler este texto:

O Econoleigo é um site sem “economês”, para aqueles que não conhecem essa língua. É por mim, Rodrigo Teixeira, alguém até então pouco interessado em números, mas agora fascinado em transformar economia em algo que até eu mesmo consiga compreender.
[…] é sua alimentação. Normalmente isso é feito através de doleiros ou lavanderias de dinheiro, conforme já explicado aqui no Econoleigo. Quando esse dinheiro é limpo pelo doleiro, ele então entra nos caixas paralelos […]